Convento de Mafra

Fim de semana passado foi novamente 1º Domingo do mês. E o que acontece nestes dias? Uma série de museus, mosteiros, palácios e conventos estão com entrada gratuita. Assim, decidimos-nos pelo Convento de Mafra, já que precisávamos de ir para aqueles lados fazer umas comprinhas no IKEA.

O Convento de Mafra é quase o ponto alto da cidade e não há maneira de o evitar. Ele foi mandado construir pelo rei D. João V, que é considerado o monarca mais extravagante de Portugal, por causa de uma promessa que fez de a rainha D. Mariana da Áustria lhe dar um filho. Quando nasceu D. Maria Bárbara, a promessa foi cumprida e o rei mandou construir o convento.

O projecto inicial tinha em vista abrigar unicamente 13 frades franciscanos, mas com a chegada do ouro do Brasil que começou a entrar nos cofres, o plano sofreu uma grande alteração, ficando bem mais ambicioso. Tanto o rei como o arquitecto encarregue da obra não se pouparam a despesas.

No total estiveram envolvidos 52000 trabalhadores e o projecto final acabou por conseguir abrigar 330 frades! Quanta diferença! Para além de ser convento, a obra também foi construída para abrigar um palácio real e uma das mais belas bibliotecas da Europa.

Esta biblioteca está decorada de forma impressionante e quem entra lá não é possível ficar indiferente ao luxo e requinte de todos os detalhes da construção. Ela está decorada com mármores preciosos, madeiras exóticas e muitas obras de arte. A parte da basílica, que não conseguimos visitar por causa de um concerto que estava a decorrer, foi consagrada no 41º aniversário do rei, o qual durou uma semana inteira, com festividades.

O palácio era particularmente popular entre os membros da família real que apreciavam caçar, já que nas costas do palácio está a tapada de Mafra, que se estende por muitos quilómetros e abriga uma imensidade de animais selvagens. O gosto pela caça ficou muito bem marcado numa sala construída inteiramente para mostrar todos os troféus que traziam.

Já a decoração da zona do palácio não está um show como estamos habituados a ver em palácios, mas isso tem uma explicação. Todo o mobiliário original que decorava o palácio foi levado para o Brasil, quando a família real fez o seu exílio, por ocasião das invasões francesas, em 1807.

A parte do mosteiro foi abandonada em 1834, quando as ordens religiosas que ali estavam se dissolveram, e em 1910 foi daqui que saiu D. Manuel II, último rei de Portugal, no dia em que se deu a queda da monarquia. Nos aposentos de D. Manuel II é possível ver uma descrição da sua rotina no dia antes e no próprio dia em que se deu a revolução. Super interessante!

A visita começa pela zona do convento, no primeiro andar, onde é possível ver a farmácia/hospital, com uns instrumentos cirúrgicos bem estranhos, pela enfermaria, com camas para 16 doentes, celas dos frades, cozinha… Incrível ver a forma simples como viviam nas celas, que apenas tinham uma cama e uma escrivaninha.

Subindo até ao primeiro andar está a parte do palácio, que se estende por toda a fachada do palácio (parte ocidental), com os aposentos do rei numa extremidade e os da rainha na outra. Super engraçado como o rei tinha de percorrer todo aquele comprimento da fachada para ir fazer as suas visitas à rainha! 🙂

Aquele corredor central supostamente não tem uma utilidade em concreto. São apenas salas que se seguem a mais salas, onde a única finalidade seria a corte se passear por ali, discutindo as últimas novidades amorosas e políticas, entre outras que achassem interessante falar. Ou seja, era o corredor da coscuvilhice e ponto final!

Ali a meio da fachada está uma enorme portada de vidro tanto para o exterior do palácio, como para o interior, onde está a basílica. Então esta sala é chamada da Sala da Benção, porque os reis recebiam a benção das missas na basílica e depois davam a sua benção ao povo, na varanda que dá para a rua.

Voltando de novo à biblioteca, ela é considerada um dos tesouros mais preciosos do palácio e possui no seu interior mais de 40 000 livros, todos eles com encadernações em couro gravadas a ouro, incluindo uma primeira edição de Os Lusíadas (1572), de Luis de Camões. Os livros da biblioteca estão disponíveis para consulta, mas claro que é preciso fazer-se marcação prévia e informar quais os livros que se pretende consultar e para quê, para que quando cheguemos já se encontrem prontinhos numa mesa destinada ao estudo. Mesmo assim há vários cuidados que se devem ter durante a sua consulta, para que não se deteriorem.

Em frente ao Palácio, estava a decorrer uma feirinha de produtos regionais também, onde nós comprámos uns quiejinhos e as pêras da região (pêra rocha) que eu tenho andado a comer imensas por estes dias no trabalho. E estão óptimas!