Aqueduto das Águas Livres!

Para começar, eu sempre que passava pelo Aqueduto, na estrada, pensava sempre que adorava visitá-lo e no quão interessante isso devia ser. O problema é que ele esteve fechado durante vários anos, sem qualquer hipótese de visitação, por causa de alguns casos de suicídio.

Então, eu acabei por deixar pra lá e tirar da ideia que o Aqueduto podia sequer ser visitado. Mas, no ano passado, quando descobri isto do Lisboa Open House, eu vi também que havia a hipótese de visitar o Aqueduto. E veio o entusiasmo. Não marcámos nada para o ano passado que pudesse incluir o Aqueduto, mas este ano não me escapou.

A única contrariedade foi estar a chover, que quase nos fez desistir dos nossos planos. Como a visita é feita sempre do lado de fora, sem protecção para tempestades, quem não tem guarda-chuva sofre um bocadinho, ainda mais com o vento que se faz naquela altura.

Mas ficou super engraçado e bem aproveitado, porque a Companhia das Águas decidiu reaproveitar o espaço e criar ali uma espécie de museu da água que se estende também numa visita ao Aqueduto. Eu não sei à quanto tempo isto está a funcionar assim e à quanto tempo as visitas foram retomadas, mas sei que a qualquer altura do ano é possível visitar o Aqueduto e fazer todo o seu percurso.

Como o tempo estava péssimo, nós fomos só até metade, onde tem o ponto mais alto que é também aquele onde a estrada passa por baixo. Tem ali a metade umas passagens que ligam um parapeito a outro e também nos permite ver como são as condutas no seu interior.

Ou seja, o Aqueduto foi criado para trazer água à cidade de Lisboa. Ele foi mandado construir em 1731 pelo rei D. João V e foi mesmo o primeiro sistema de abastecimento regular de água à cidade de Lisboa. Em 1967 ele foi retirado da rede de abastecimento de água, mas havia de ficar para sempre na arquitectura da cidade a lembrar-nos de como era antigamente.

Então, eu acho fantástico passar pelo meio da conduta e ver o quão larga e sem fim ela é. Vêm-se quilómetros de túnel que não tem fim e pensamos como seria naquela altura a água a correr por aqui e a abastecer toda a cidade de Lisboa. Grande obra da engenharia e talvez o que melhor está preservado em Portugal.

Segundo o folheto que eles estavam a oferecer, o túnel tem uma extensão de 58km e a travessia mais conhecida de Alcântara tem 35 arcos monumentais, numa extensão de 941 metros. O maior arco em pedra tem uma altura de 68 metros e largura de 32 metros.

As vistas a partir do alto do Aqueduto também são elas próprias um motivo mais do que suficiente para se visitar esta obra, onde talvez a mais inspiradora seja a Ponte 25 de Abril, que é sempre aquele ponto inconfundível no horizonte lisboeta.

A visita ao Aqueduto pode ser feita em toda a sua extensão, mas nós optámos por só fazer até ao ponto mais alto e voltar para trás. No início do Aqueduto tem um jardim com o mapa do que vamos encontrar mais em frente, com algumas curiosidades acerca do Aqueduto, como o comprimento, arcos, etc…

A melhor notícia é que ele está aberto ao público a qualquer altura do ano e não só durante o Open House, então é só checar os horários e escolher qual o melhor dia para visitá-lo.

Teatro Nacional de S. Carlos!

O Teatro Nacional de S. Carlos foi inaugurado em 1793, numa altura em que Portugal estava em Monarquia. E isso fez com que todo o ambiente e construção tivessem um cunho próprio daquele tempo e nos fizessem lembrar de como era a vida cultural naquela altura.

O interior do teatro é de uma riqueza fora de série e com detalhes encantadores, daqueles de ficarmos de queixo caído. Como naquela altura o rei tinha por hábito assistir a peças no teatro, então foi construído um aposento próprio bem no centro, o qual quase roubava a atenção dos espectadores do que realmente estava a acontecer em palco.

Os camarotes também ainda são à moda antiga, bem pequeninos e com hipótese de serem reservados na totalidade, especialmente se vamos com um grupo restrito de pessoas. Quando fomos ver o Teatro, ouvimos muito falar do género de peças que aqui acontecem e principalmente acerca das próximas.

E apercebemos-nos que as Óperas são muito conhecidas e aclamadas. E que geralmente esgotam a sala em todas as sessões que aqui acontecem (e que duram uma semana). A próxima que ia acontecer era da da Madame Butterfly, que já estava quase esgotada. Como ela ia acontecer no final do mês de Outubro, o cenário já estava colocado e todos os adereços também já estavam nos camarins.

Então, por essa razão não pudemos ir visitar a parte de trás do espectáculo e só conseguimos assistir ao esplendor da sala e ouvir todas as curiosidades acerca dela e acerca também das actuações que aqui acontecem. Para além das Óperas, a Companhia Nacional de Bailado também tem por hábito fazer aqui as suas apresentações.

Então, na entrada já estava disponível um livro com todos os espectáculos da temporada, que já iniciou, com as suas datas e um breve resumo. Óptimo para ter ideia do que por aqui existe e fazer planos para o que gostaríamos de ver. Nós gostávamos de experimentar uma Ópera, mas esta da Madame já estava um pouco em cima e os melhores lugares quase todos ocupados. Então, em Junho vai haver outra igualmente conhecida, Nabuco, a qual já valerá a pena fazer contas à vida para visitar.

Outra curiosidade que eu já tinha visto na Suécia, mas que foi muito ao longe, era o fosso onde os músicos tocam. Eu já tinha falado que na Suécia tinha assistido a um bailado. Pois bem, a sala era quase tão imponente quanto esta e tinham também uma banda a tocar durante o espectáculo. Aqui, no S. Carlos, há igualmente espaço para ela e é engraçado vermos isso tão de perto. O piano que costumam tocar ainda está lá e coitadinho tem ares de velhinho mesmo.

Os espectáculos, principalmente as Óperas são coisas um pouco caras que acredito não fazem parte da vida de qualquer cidadão. Mas, eu não sei se foi pela visita ao teatro e por ouvir as explicações, mas fiquei a achar que pelo menos uma vez na vida eu tenho de experimentar uma Ópera, mesmo que depois descubra que não é o meu estilo.

Mesmo assim, a senhora explicou que nem todas as Óperas são boas para ir pela primeira vez, porque umas não são tão tradicionais como outras. Então, o ideal é perguntarmos na altura que estamos a comprar bilhete se aquela Ópera é a ideal para ir pela primeira vez.

O Teatro em si está disponível para visitas marcadas por email em qualquer altura do ano, no entanto, pagas. Nestas visitas eles vão connosco a todo o sítio do Teatro, incluindo o backstage. A única coisa que acontece é que as marcações são agendadas pelo Teatro para quando lhes dá jeito. Ou seja, para quando não têm nenhum evento a acontecer e tudo está livre e desimpedido.

Faculdade de Ciências Médicas e Polo de Investigação

As instalações da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa foram feitas na altura do X Congresso de Medicina, um evento internacional que reunia personalidades de fora de Portugal. Assim, a construção foi feita com muito empenho, para que as salas tivessem ao nível da dimensão do evento e também que agradassem a todos aqueles que viriam.

O primeiro curso de medicina só viria a ser inaugurado em 1973-1980, nestas instalações, que depois do congresso ficaram um pouco ao abandono. A faculdade aqui recebeu o nome de “Extensão do Campo de Santana”, e a razão para que também aqui se leccionasse o curso de medicina foi que os laboratórios e salas de aula em Santana já não comportavam mais alunos.

Então, alguns professores foram enviados para leccionar medicina nestas novas instalações, acabando por se criar um núcleo próprio coeso que tinham as suas ideias, diferentes do que era feito em Santana, na escola principal. Isso fez com que houvesse alguma separação, mesmo dentro da mesma Escola.

O primeiro curso teve a particularidade de durar sete anos, devido exactamente às indefinições que ainda haviam em relação ao que ira ser leccionado e onde. O primeiro diploma a ser dado aos estudantes foi em 1977, quando se deu a criação formal da faculdade.

Já nessa altura, a faculdade usava meios audio-visuais modernos para gravar as aulas teóricas dadas pelos professores e depois projectar para os alunos que não pudessem estar naquela altura, mas só mais tarde, como por exemplo os alunos trabalhadores-estudantes.

Hoje em dia, a faculdade lecciona só Mestrado Integrado em Medicina e formações pós-graduadas, sendo as salas que nós vemos unicamente usadas para as apresentações e defesas de tese. As salas mais ornamentadas, estão assim associadas a toda esta actividade de mestrado, no entanto, também é comum vermos mesas espalhadas aqui e ali, para que os alunos se sentem e possam fazer trabalhos ou estudar.

As salas mais bonitas são a dos Passos Perdidos e a lindíssima Sala dos Actos. a Sala dos Actos está desenhada para acolher eventos mais pequenos, mas principalmente para as defesas de teses. As paredes em volta estão cobertas com pinturas que contam a história da medicina ao longo dos séculos. Então, todas as personagens que estão nas pinturas existiram mesmo e fizeram parte fundamental na descoberta de muitas coisas nesta área.

O senhor que nos fez a visita guiada explicou tim-tim por tim-tim quem era quem e que contributo deu para a medicina no seu século. Então, quem puder visitar a faculdade com certeza vai achar esta parte super interessante, principalmente quem não conhece muito sobre esta área da medicina. No entanto, até para mim que estou mais ligada a ela é engraçado ouvir os nomes que me são familiares e relembrar quais foram as grandes descobertas de cada século.

A Sala dos Passos Perdidos é assim chamada por causa de ser a sala logo a seguir à sala dos Actos, onde os alunos saem da sua defesa de tese e ficam a aguardar pelo veredicto final. Então, por causa de todos os nervos, eles não são capazes de ficar quietos e deambulam pela sala até serem novamente chamados. Daí o nome Passos Perdidos.

Depois de visitarmos a parte mais formal da faculdade fomos até ao Polo de Investigação, onde visitámos vários laboratórios que estão basicamente ligados à investigação na área do cancro e das doenças crónicas. Para mim não é novidade ver todo o equipamento laboratorial, porque já trabalhei nesta área e neste contexto, durante o tempo dos estágios da faculdade e depois em ERASMUS, mas não deixou de ser giro rever tudo e principalmente ter a oportunidade de mostrar ao Carlos o meu mundo.

Nesta parte, a guia não explicou grande coisa, como por exemplo para que servem alguns dos equipamentos que vemos ali (que eu achava super interessante se tivesse sido falado), então eu aproveitei para ir dando umas explicações ao Carlos, principalmente sobre equipamentos que eu já trabalhei no passado.

No final da visita e depois de conversar com a guia que era estudante de arquitectura, ela ainda me convenceu a dar alguma explicação acerca da forma como desenharam o DNA na vidraça de fora do edifício. E isso acabou por gerar mais algumas explicações sobre equipamentos que tínhamos visto lá dentro. E eu adorei o papel de professora! 😉 Acho que me vou candidatar a voluntária do Open House ano que vem! 🙂

Sede do Banco de Portugal

Esta é uma daquelas visitas super interessantes e imperdíveis. Fomos visitar a Sede do Banco de Portugal por altura do Lisboa Open House, que foi há dois fins de semana atrás. E a escolha mais uma vez foi super certeira. Adorei a visita e toda a história que rodeia o Banco, incluindo a muralha de D. Dinis que está no subsolo e foi encontrada por arqueólogos recentemente.

Então a actual sede do Banco de Portugal foi reconstruída após o terramoto de 1755, onde toda a baixa lisboeta foi destruída e onde se perdeu muito da arquitectura dessa altura e também da forma como as ruas estavam enquadradas. Lá no Banco tem uma sala de anfiteatro que passa um vídeo onde mostra a Lisboa antes do terramoto (com os nomes das ruas, onde ficava as principais construções) a reconstrução desta zona e também como este edifício em especial tem sofrido alterações ao longo do tempo.

Este edifício nem sempre pertenceu ao Banco de Portugal. Antes foi Igreja de S. Julião, que é o que actualmente nós visitamos e a única parte do Banco que está aberta a visitação. Então aquilo que nós vemos no espaço amplo é a antiga nave da igreja.

Em 1930, o Banco de Portugal comprou este edifício também, ficando com a posse da totalidade do quarteirão, sendo a igreja dessacralizada e convertida em instalações de serviços. Inicialmente, as suas funções eram mais de arrumos e garagem. Isso fez com que este espaço fosse conhecido como a Igreja da Nossa Senhora dos Mercedes! 🙂

Mais tarde, o ouro de Portugal estaria inserido aqui, em cofres fortes imbutidos nas paredes. Hoje em dia, eles foram transferidos para um armazém criado para o efeito, fora de Lisboa, mas ainda é possível ver, em algumas paredes, as marcas deles. Além disso, foi colocado uma porta de cofre forte numa das paredes do edifício, justamente para termos ideia de como elas são e de quão intrincadas e resistentes são.

Essa porta é na verdade uma passagem que leva a um espaço exíguo onde se pode adquirir ingressos para visitar a muralha de D. Dinis, no subsolo, e também onde se pode ver uma barra de ouro maciço verdadeira. Podemos até tocar nela, mas aviso já que está bem presa e não sai. 😀

Então, a reconstrução do edifício tal como vemos hoje foi a mando da UE, que pretendia fazer deste espaço algo mais cultural e com intuito museológico. Fizeram um concurso para eleger os arquitectos responsáveis pela obra e assim nasceu este espaço que tem uma arquitectura a fazer lembrar um pouco a de uma igreja. Isto foi de propósito, para manter viva a lembrança daquilo que foi o seu passado.

Ao mesmo tempo, também vemos apontamentos modernos, como é o caso dos cortinados que separam este espaço dos gabinetes onde trabalham as pessoas do Banco de Portugal. Ou as cadeiras que decoram o ambiente, entre outras coisitas que conseguiram misturar muito bem os diferentes estilos arquitectónicos.

A muralha de D. Dinis encontrada por baixo da antiga igreja de S. Julião está também aberta ao público (apenas um troço dela), onde foi feito um centro de interpretação também, para que entendamos a história da sua construção e como era a vida naquela altura. Para além disso, também vemos vários objectos que caracterizavam os areais do Tejo nos períodos romano, medieval e moderno.

Vemos muitos instrumentos utilizados à mais de 1000 anos atrás e também conseguimos decifrar o que vemos incrustado na muralha, através de notas explicativas. Por exemplo, há uma parte em que a pedra tem uns laivos, sinónimo de presença de fogo em contacto com esta zona. Super interessante mesmo!

A muralha foi construída pelo rei D. Dinis em finais do século XIII para servir de protecção às pessoas e bens, já que, naquela altura, Lisboa era um importante centro económico e de comércio, sujeito a ataques vindos do mar. A muralha, localizada junto à zona ribeirinha, esteve em uso durante 75 anos, sendo progressivamente abandonada, após esse tempo.

Junto à muralha as pessoas faziam a sua vida normal e daí nós conseguirmos ver tantos vestígios disso incrustados na própria muralha. Ao longo do tempo foram também muitos os edifícios que aproveitaram a muralha para apoiarem aí as suas paredes, criando construções mais resistentes.

Em 1755, o terramoto destruiu praticamente toda a estrutura, que permaneceu soterrada durante mais de 250 anos. Em 2010, escavações arqueológicas aquando da remodelação do edifício do Banco de Portugal, trouxeram de novo a muralha à superfície, e hoje em dia é uma parte importante da visita ao edifício. Para além da muralha, está também a ser construído o Museu do Dinheiro, que não tardará muito a abrir ao público neste mesmo edifício.

Supremo Tribunal de Justiça

Fim-de-semana passado foi o Lisboa Open House e apesar de ter acontecido mil e um imprevistos daqueles que acontecem uma vez na vida, e a probabilidade de virem ao mesmo tempo é ínfima, ainda deu para darmos um saltinho ao Palácio da Ajuda e ao Supremo Tribunal de Justiça. Tinha-me esquecido de referir que o Palácio foi visitado no Lisboa Open House! Eu tinha uma listinha tão interessante e pronto fui tramada pelas circunstâncias da vida! 🙂 E depois o tempo também estava péssimo!

Mas pronto, a minha segunda escolha do dia foi o Supremo Tribunal de Justiça porque era suficientemente diferente do que faz parte de uma lista de turista e ao mesmo tempo interessante. E interessante porque a minha área de trabalho não tem mesmo nada a ver com Direito e como eu muitas mais pessoas estão na mesma situação. Então, o Supremo para mim, e tudo o que gira à volta, era algo que eu desconhecia totalmente. Sou sincera! Nunca me tinha interessado e não fazia ideia do que estava por detrás deste tribunal.

Mas com a visita eu tive uma enorme surpresa porque eu achei todo este mundo e regras, em volta do Supremo, muito interessantes de descobrir e reter como cultura geral. Está tudo tão bem definido e estruturado que vale mesmo a pena ouvir a história com atenção e imaginar todo o percurso que os juízes têm de fazer ao longo da vida até chegarem ao Supremo, e mesmo assim só os melhores chegam. Estamos a falar mesmo de uma Elite, não é brincadeira.

O Supremo Tribunal de Justiça está num dos edifícios da Praça do Comércio desde que eles foram construídos após o terramoto de 1755. Como todos sabemos, Marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei D. José I, esteve envolvido no projecto de reconstrução da baixa lisboeta, contribuindo para a construção deste edifício.

Assim, desde que foi criado, em 1833, o Supremo foi estabelecido neste edifício, e tem vindo a ocupar cada vez mais espaço por causa do aumento dos serviços de apoio e dos magistrados.

Os juízes que fazem parte do Supremo são chamados de Juízes Conselheiros e para chegarem até aqui têm, em primeiro lugar, que concorrer ao Centro de Estudos Judiciários (que só existe em Lisboa), a fim de estudar para a magistratura judicial. Isto após terminarem a licenciatura de Direito.

Depois de terminarem os estudos começa a carreira e a evolução: primeiro entram nos tribunais de 1ª Instância, como Juízes de Direito; depois, através de concurso curricular, podem ascender até aos tribunais de 2ª Instância, onde são chamados de juízes da Relação ou Desembargadores.

Para chegar a Juiz conselheiro é através de Concurso curricular de mérito, a que são admitidos os Juízes da Relação, magistrados do Ministério Público Procuradores-gerais-adjuntos) e outros juristas com mérito reconhecido, na proporção, para cada 5 vagas: três para Juízes da Relação, uma para Procuradores e uma para Juristas de mérito reconhecido.

Por isso, a idade com que chegam ao Supremo é de mais ou menos 57/58 anos e o limite para exercer é 70 anos.

Os casos que são julgados no Supremo só cá chegam depois de terem ido a recurso após o julgamento nos tribunais da 1ª e algumas vezes 2ª Instância, dependendo de uma série de regras relacionadas com o valor monetário da causa, os anos da pena, ou a concordância ou não na decisão entre as duas primeiras Instâncias. Assim, quando o caso chega ao Supremo é atribuído uma de três jurisdições (cível, laboral ou criminal), segundo o tipo de caso, e também seleccionados os juízes que vão avaliar as decisões tomadas nas instâncias anteriores, só na base da aplicação do Direito.

Tirando a parte teórica da coisa, durante a visita temos acesso a uma das salas onde os Juízes se reúnem para reavaliar os processos que vêm para recurso. Típica sala de estudo ou reuniões. Também podemos ver a Galeria dos Presidentes, onde estão os quadros com todos os presidentes até hoje do Supremo Tribunal.

Mas, na minha opinião, o Salão Nobre é o mais impressionante! O Salão é a principal Sala de Audiências e é maioritariamente utilizado para cerimónias, como a Abertura do Ano Judicial, Tomadas de Posse dos Presidentes, Vice-presidentes e Juízes Conselheiros.

Quando um caso é muito mediático, que obrigue a uma audiência pública, o Salão é utilizado, e nele estarão presentes os Juízes Conselheiros que se ocuparam dele e ditarão o julgamento, advogados e ministério Público (se for mesmo necessário).

Palácio da Ajuda

Não é novidade nenhuma que eu adoro tudo o que tem a ver com palácios e castelos. Adoro ver os interiores riquíssimos e a história de cada divisão. A maneira como os reis e as rainhas viviam rodeados de luxo e mesmo o seu estilo de vida, o que mais gostavam de fazer e de que forma ocupavam os seus tempos livres. Para além dos rituais cerimoniais do dia-a-dia, que é qualquer coisa surpreendente e interessante para mim. E para quem acha que é só no estrangeiro que se encontram verdadeiras obras de arte está muito enganado porque eu já fiz uma lista de todos os palácios de Lisboa que quero visitar em breve e todos eles são lindíssimos. Para não falar que representam a história do nosso país, que às vezes acabamos por esquecer um pouco, já que não temos monarquia à muitos anos.

O primeiro palácio que visitei à umas semanas foi o de S. Bento, mais ligado à governação desde os seus primórdios, e agora o da Ajuda, residência oficial da corte a partir de D. Luis I. Claro que as residências são bem mais grandiosas e cheias de requinte, por isso eu achei a decoração e salas lindíssimas.

A história do Palácio da Ajuda vem do ano de 1796, quando começou a ser construído no lugar onde era o Real Passo da Nossa Senhora da Ajuda, construção em madeira que sofreu um incêndio em 1794. Dentro do palácio está uma maquete do que foi o projecto inicial de construção, que acabou por não ser cumprido e apenas foi construído 1/3 do palácio. O motivo principal para que isto tivesse acontecido foi a partida da corte para o Brasil, em 1807, por causa das invasões napoleónicas.

Para termos ideia da enormidade do que estava previsto ser construído é olharmos para a parte do palácio onde entramos e imaginarmos que aquela era para ser a parte lateral. Supostamente a entrada estava prevista ser virada para o rio Tejo, com uma escadaria enorme. A decoração e disposição das salas como vemos agora deu-se um ano antes de D.Luis I casar com a princesa italiana D. Maria Pia de Sabóia, adaptando os espaços para os padrões das elites do séc. XIX.

O andar nobre ficou reservado para recepções oficiais/gala e também às actividades lúdicas dos reis, enquanto que o térreo ficou com os aposentos pessoais do rei e rainha e também com algumas áreas semiprivadas, onde de quando em vez os reis recebiam visitas de pessoas mais chegadas à corte.

São muitas as salas, cada uma com o seu ambiente distinto e único, decoradas ao pormenor segundo o seu propósito mas há algumas que se destacam mais, principalmente pelo valor histórico. No piso térreo alguns exemplos são: a Sala dos Archeiros, que era muito utilizada no quotidiano, pois era o ponto de entrada para as visitas aos reis, e por essa razão onde permanecia a guarda de honra (archeiros); a partir da Sala dos Archeiros existem mais três salas que serviam de passagem às visitas, e uma delas era a Sala Grande de Espera, onde elas aguardavam a ordem do rei para as receber.

À parte as salas de recepção às visitas, a Sala do Despacho vem depois, e a sua função é de trabalho, onde o rei despachava documentos e tratava de assuntos do Estado. A Sala da Música era uma das salas dedicadas aos passatempos dos reis, e neste caso tanto o rei como a rainha gostavam de se dedicar aos instrumentos que tocavam, oferecendo a amigos alguns serões de música nesta sala.

Para além da música, os reis também se interessavam por leitura, escrita, pintura e bilhar, e para cada um dos seus interesses eles reservavam uma sala, que só no caso da pintura, está localizada no andar superior.

De resto, no piso térreo ainda está a Sala Verde, onde a rainha se ocupava de assuntos oficiais e beneficência; o Quarto da Rainda D. Maria Pia, com uma decoração azul magnífica pensada por D. Luis I para agradar a noiva (bate aos pontos muitas decorações que já vi noutros palácios); a Sala de Jantar, que era utilizada diariamente numa perspectiva mais familiar; e claro, o prórpio quarto do rei.

Depois o piso superior é o que tem as salas maiores e mais imponentes, de modo a receber com toda a pompa e circunstância as visitas oficiais. É aqui que está a Sala do Trono, que foi considerada durante dois séculos a mais alta representação da Nação. Era aqui que se realizava a cerimónia do beija-mão, várias vezes no ano, onde a hierarquia da Corte se evidenciava.

Logo a seguir está a Sala D. João VI, que é a antecâmara da Sala do Trono e está decorada com pinturas excelentes representado o regresso de D. João VI ao reino.

Também no andar nobre está a Sala dos Archeiros, utilizada nos dias de gala, como passagem para a Sala do Trono, já que está em linha recta com a antecâmara e depois com o trono. Hoje em dia esta sala ainda é usada em algumas cerimónias de tomada de posse do governo português!

Bem ao lado está a Sala dos Jantares Grandes, que foi utilizada em muitos dos banquetes da Casa Real, e também no casamento de D. Miguel e D. Carlos. Esta sala ainda hoje é usada para os banquetes da Presidência da República! Eu só tenho a dizer que era isto que eu andava à procura para o copo-de-água do meu casamento e não encontrei a tempo. 🙂

Mas no andar nobre, ainda há um corredor enorme cheio de salinhas utilizadas para os mais diversos fins. Uns mais de relevo que outros, mas ainda assim destaco o Atelier de Pintura que eu amei a decoração e não é por acaso que era uma das salas preferidas do rei D. Luis I! Também interessante é ver o Quarto que o rei D. Luis I utilizou, por conselho médico, no último ano da sua vida, que depois da sua morte foi ocupado pelo infante D. Afonso até ao ano de 1910, quando o palácio foi encerrado.

Nota final: o Palácio tinha um aviso na entrada a proibir fotos, então todas as fotos até à Sala do Trono (ou, seja, quase todas) foram tiradas com a máquina do Iphone que coitadinha deixa muito a desejar. Mas pronto, só no final, ao ver a Sala do Trono ficámos naquela de que não queríamos fotos medíocres daquela sala então… Ainda assim as fotos infelizmente não fazem jus ao quão bonito é o palácio e muitas vezes o excesso de claridade estragava tudo. Sorry sorry! Eu prórpia fiquei um bocado triste do resultado final. Mas pronto, não é o fim do mundo, e com certeza aprendemos todos os dias com os erros! Iphone nunca mais! 🙂