Como eu tinha falado no outro post sobre o Porto, a ideia da visita sempre foi conseguir encaixar coisas que não tínhamos conseguido fazer na primeira visita. E uma delas foi totalmente o passeio por Gaia e a visita a uma cave de vinho do Porto.
Como há uns bons anos que não fazíamos uma visita a uma cave, esta era a desculpa perfeita. A dificuldade estava em qual cave escolher, dentre tantas diferentes ao longo das margens do rio Douro. A escolha caiu nas caves Burmester por ter lido alguns comentários sobre a sua antiguidade e como o processo de envelhecimento do vinho ainda é feito à antiga sem muitos mecanismos mais modernos.
Mas antes de descermos até ao rio, começámos a tarde a visitar o miradouro no Jardim do Morro, que tem umas vistas brutais sobre o Porto e sobre o rio Douro. O Jardim é também uma paragem do elétrico, que passa a parte superior da ponte D. Luis, mas nas laterais há um percurso pedestre para quem quiser passar a ponte para a outra margem.
Nós fomos de carro até ao Jardim meio que enganados, porque o que queríamos mesmo era ficar lá em baixo, junto às caves. Mas no final, o engano foi excelente porque de outra forma eu não chegava a conhecer este miradouro e as vistas brutais que tem sobre a cidade do Porto.
Para quem não está de carro, a mobilidade é excelente também. Já falei do elétrico que passa por aqui e do percurso pedestre sobre a ponte, que liga as duas margens e torna super fácil o acesso. Mas, para além disso, também existe um teleférico que liga o ponto alto do miradouro e o passeio lá em baixo junto das caves. Então é excelente para quem quer visitar o miradouro mas está lá em baixo nas caves e não lhe apetece encarar toda a subida até lá acima.
Chegados lá em baixo fomos andando desde as caves Ferreira (que eu certamente vou visitar numa próxima) até às caves Burmester, bem de frente para a entrada inferior da ponte D. Luis. Fica meio escondida, mas quando entramos lá dentro temos as melhores vistas desde as altas janelas. Além disso é super interessante como a própria cave está construída em vários níveis, como que a subir a encosta.
Fizemos a visita guiada com prova de 4 vinhos e chocolates e eu super recomendo. Vale a pena pagar mais 5€ e poder provar no final da visita os melhores vinhos do Porto, que são justamente aqueles mais adocicados.
A visita começou com a história da cave Burmester, que vem de uma família inglesa e como a produção de vinho do Porto foi sofrendo alterações, até ao que conhecemos hoje em dia. Até a própria história política e social de cada década influenciava a produção.
O vinho do porto Burmester pode ser envelhecido em diversos barris, dependendo da qualidade do vinho que estamos a tentar produzir e há até alguns tipos que não são produzidos todos os anos porque dependem de várias condições (casta da uva, condições meteorológicas, nível de humidade do solo).
Os barris maiores vão permitir que o vinho não esteja tanto em contacto com o oxigénio, ao contrário dos barris mais pequenos, onde o vinho é mais oxigenado. Estas diferenças vão ser sentidas no tipo de vinho que sairá no final.
Mas mais importante do que estas diferenças entre os tipos de vinho é a importância que esta encosta tem no envelhecimento do vinho do Porto de todas as quintas. Depois da vindima acontecer nos socalcos do Douro ou na região do Douro vinhateiro, o vinho produzido é trazido para as caves na encosta de Gaia e é aqui que vai envelhecer nos barris, de forma a que ao fim de vários meses (dependendo do tipo de vinho) tenhamos o famoso vinho do Porto.
A encosta de Gaia tem mesmo o microclima favorável a este envelhecimento, quer nas condições de humidade, pouca luminosidade proteção das grandes intempéries. Assim, está explicado porque as caves se aglomeram todas numa só margem do rio e encosta acima. Da mesma forma que a região em que as quintas estão situadas é tão importante para o crescimento das castas que vão dar origem ao vinho do Porto.
Então, resumindo, todo o processo de produção, desde o crescimento das uvas até às etapas de envelhecimento, é algo muito intrincado e cheio de regras. Tudo isto para que no fim a qualidade seja garantida e o vinho do Porto tão famoso seja produzido.
As caves Burmester têm diversos tipos de vinho, e, como eu falei acima, cada um deles tem as suas características distintas de produção, as quais podem implicar mudanças em diversas etapas distintas. É um processo muito característico que depende de vários fatores e é impossível explicar em detalhe cada um deles. Infelizmente não sou uma especialista e não decorei cada coisa que foi dita.
No entanto, adorei conhecer a cave e perceber o quão diferentes os vinhos conseguem ser, mesmo provenientes da mesma quinta. A cave realmente é antiga e ainda preserva muitos mecanismos antigos na produção do seu vinho. Vale muito a pena visitar!