15 dias pela Europa, as dicas práticas!

E querendo acabar de uma vez com os posts da viagem pela Europa, hoje venho rematar com uma série de dicas práticas gerais de planeamento da Europtrip. As dicas práticas de cada um dos países e cidades que visitámos já foram saindo. Mas para quem está a pensar fazer algo deste género, mais elaborado, é essencial pensar em algumas questões. Eu até tinha ponderado fazer um vídeo explicativo e tentar tornar tudo mais leve e tal. Mas com a falta de tempo que tenho tido ultimamente, já percebi que vai ser impossível. Então aproveitando o pouco tempo que ainda vou tendo durante o trabalho, decidi escrever por aqui alguma coisa útil e que me ajudou na experiência final da viagem.

Começando do início, como fiz o meu roteiro?

O roteiro é o primeiro passo para garantir o sucesso de qualquer viagem. Especialmente quando ela é longa e envolve várias cidades, ou até mesmo vários países diferentes. No meu caso foi uma questão histórica e, claro, de cidades que faziam parte do meu imaginário à muito tempo. Mas mesmo assim, foi preciso ponderar o que valia ou não a pena e o que já seria loucura. Se olharem para o mapa da Europa e virem o roteiro que fiz, vão perceber que ele é seguido, com países que fazem fronteira uns com os outros e com cidades que não estão mais do que 8h de distância.

Na hora de escolhermos um roteiro importa pensar qual a região da Europa queremos visitar, por quanto tempo vamos querer viajar e como. Se eu não queria andar de avião de uma cidade para a outra, então tive de encontrar um roteiro com cidades relativamente perto umas das outras.

Também é preciso saber parar. Não adianta querer visitar 500 cidades em duas semanas. Só nos vamos desgastar e não vamos conhecer nada na realidade. Eu dediquei dois dias a cada cidade que visitei e mesmo assim em Viena e Budapeste fiquei com a sensação que mais havia para ver e conhecer. Dedicar ainda menos tempo a cada cidade é piorar mais este sentimento.

Como planeei os transportes?

Planear um roteiro pela Europa envolve sempre escolher qual o melhor meio de transporte. Como as distâncias na Europa são mais pequenas, o ideal é esquecer o avião e usar o comboio ou o autocarro. No nosso caso, demos preferência aos autocarros, por serem mais baratos e pela facilidade em comprar os bilhetes com mais antecedência. E há literalmente opções de autocarro entre quase todas as cidades europeias. Não há a mínima hipótese de não conseguirmos fazer um roteiro do início ao fim sem autocarro.

Viajar de autocarro faz com que poupássemos muito dinheiro mas também implica mais horas perdidas em viagem. A solução que arranjei foi viajar de noite quando as distâncias eram maiores, ou então sair muito cedo para chegar à próxima cidade ainda antes de almoço. E resultou muito bem! Fiquei fã dos autocarros para viagens dentro da Europa quando falamos em roteiro. Resta dizer que comprei todos os bilhetes de autocarro no site GoEuro!

Como organizei o alojamento?

Planear alojamentos para 7 países diferentes pode ser uma verdadeira loucura. É preciso muita organização e não deixar nenhum detalhe de lado. Eu optei por reservar casas no AirBnB para todos os dias da viagem. E isso pode ser um factor extra de stress e necessidade maior de gestão.

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Implicou que passasse horas a escolher casas, a avaliar se ficavam relativamente próximas de transportes, se não ficavam muito longe do centro mas ao mesmo tempo não muito longe da estação de autocarros, se tinha boas condições, etc… E mesmo assim isso não é garantia de nada! Como já falei antes, a casa de Praga acabou por ser uma experiência sociológica muito fora do que esperávamos e a casa de Cracóvia foi desmarcada à última hora. Ou seja, mesmo com toda a planificação do mundo, percalços acontecem.

No entanto, todas as outras casas foram muito boas para o preço que pagámos. Permitiu-nos ter mais liberdade para cozinhar, para irmos às compras, para conhecermos mais da cultura de cada sítio por onde passámos. Se passei várias horas a trocar mensagens com os anfitriões? Claro!! E mesmo durante a viagem estava sempre em contacto com o anfitrião da próxima casa onde íamos. Mas tudo isso faz parte da tal gestão de quem planeia um roteiro destas dimensões. É impossível esperar que tudo fique organizado em casa e depois de embarcar já não precisamos preocupar com mais nada. Não é assim! Durante toda a viagem eu estive preocupada a organizar as coisas da cidade seguinte.

Como lidei com diferentes moedas?

O roteiro que fiz passava por países com moedas diferentes do Euro. E se isso geralmente não é um problema, começa a dar mais dores de cabeça saber que para além do Euro, tinha de me preocupar em ter outra moeda na Polónia (Zloty), República Checa (Coroa checa) e Hungria (Florim Húngaro). Ou seja, quase metade da viagem foi com moedas diferentes do euro.

Eu optei por simplificar e não levar as moedas comigo. Chegávamos e levantávamos dinheiro em ATM. Pagámos algumas taxas, claro, mas nada de mais e nada que não fosse razoável o bastante. Íamos ficar apenas 2 dias em cada uma destas cidades com moedas diferentes. Para quê complicar? Além disso, estes países já estão tão habituados às dificuldades dos turistas que facilitam bastante. Houve casos em que aceitaram pagamento em euros fazendo uma pequena conversão no telefone.

Usei novamente a minha aplicação XECurrency, que instalei no telefone na viagem à Ásia de 2017 e pronto! Foi bastante fácil lidar com todas as mudanças de moeda entre os vários países.

Como lidar com cansaço e falta de horas de sono?

Este foi sem dúvida um dos problemas da viagem. Não que tivesse atrapalhado os planos porque conseguimos fazer quase tudo o que tinha planeado, mas porque me fez adaptar o roteiro de alguns dias. Viajar durante 15 dias já trás um cansaço próprio. São dias e dias a andar, a visitar sítios, a viajar, etc… Quando somamos noites mal dormidas em autocarros, a situação só piora. Então era claro que os dois dias seguintes a noites mal-dormidas foram os piores da viagem. Para além da disposição para andar ser menor, eu sentia também mais dores nas costas, desconforto no estômago que me tirava o apetite, etc… Ainda bem que foram só dois dias! Eu optava por tornar o dia mais light e carregar o dia seguinte.

Na prática os dias light não tiveram muito impacto na viagem, mas fez-me pensar que não é a melhor solução para próximos roteiros. Sem dúvida que uma noite bem dormida numa cama é o melhor remédio para viagens longas. Bastava umas horas de sono numa caminha e nós ficávamos logo bem dispostos e prontos para um dia super preenchido de passeio turístico.

Como fazer a mala para 15 dias?

Esta foi a minha maior conquista de toda a viagem. Pela primeira vez eu consegui viajar apenas com uma mala de cabine e uma mochila às costas. O meu marido levou igualmente a sua mala de cabine e mochilinha. Como consegui esta proeza? Relativisando tudo! E também assisti vários vídeos no youtube sobre técnicas para arrumar a mala. E houve duas blusas que não cheguei a usar durante toda a viagem!

Como fui numa altura de Outono na Europa, onde as temperaturas já começam a baixar, a grande maioria da minha roupa foi para o frio. Falar sobre a minha mala dava direito a post exclusivo mas eu vou tentar sumarizar as principais técnicas que usei.

Em primeiro lugar eu escolhi blusas com cores neutras e sem padrões que desse para combinar com o máximo de roupa possível. O mesmo para as calças! Em segundo lugar, não levei uma muda de roupa para cada dia da semana. Já não sei dizer ao certo quantidades de cada coisa, mas foi o suficiente para sobreviver na boa durante uma semana e depois lavar roupa se houvesse necessidade. Ah e claro, dei preferência a roupa mais quentinha, por isso levei blusas térmicas para usar por baixo das blusas de lã finas (para ocupar menos espaço) que tinha levado. Só levei um lenço e um cachecol, um casaco quentinho e um par de ténis. Não levei toalha para o Spa em Budapeste e preferi alugar lá mesmo. Terceira dica: arrumação da roupa em rolinhos na mala. Foi a melhor solução para ocupar menos espaço e eliminar de uma vez aquele espaço morto que fica quando colocamos a roupa dobrada normalmente dentro da mala. Além disso, quando a desenrolava, na maior parte dos casos, não estava amarrotada.

Última dica: Coloquei toda a roupa dentro da mala de cabine e tudo o resto veio comigo na mochila. Então, para não ocupar espaço na mala de cabine com coisas mais volumosas e que não dão jeito arrumar, coloquei os necessaires com os líquidos, farmácia, e produtos de beleza e higiene gerais, dentro da mochila. Pala além disso, ainda guardei por lá os guias de viagem, alguns eletrónicos, além de qualquer comida ou souvenir que íamos comprando ao longo da viagem.

Fiquei tão entusiasmada com esta conquista que vou tentar fazer o mesmo agora na viagem da Ásia!

Então, vale a pena fazer uma Eurotrip?

Claro que sim! É mais exigente que uma viagem de fim-de-semana? Claro! Mas é uma forma óptima de conhecer mais da Europa num curto espaço de tempo. É necessário muito planeamento e mente aberta como em todos os roteiros. É preciso ter consciência que não vamos conseguir saber tudo sobre todos os sítios por onde vamos andar. Ao longo da viagem ainda é preciso gerir, fazer planos, ler os guias de viagem para refrescar a memória acerca do roteiro X e Y deste e daquele país. Mas no final não apetecia voltar para casa. Apetecia apanhar outro autocarro e seguir viagem. Então pronto, ficámos com o bichinho dos roteiros pela Europa e é provável que mais apareçam no horizonte nos próximos anos.

Campo de concentração de Auschwitz e Birkenau!

A razão porque eu incluí a Polónia, mais precisamente Cracóvia, no roteiro teve um único motivo: visitar os campos de concentração mais conhecidos da 2ª Guerra Mundial: Auschwitz e Birkenau. Eles ficam a cerca de uma hora de caminho de Cracóvia, o que a torna a cidade base ideal para fazer a visita, com inúmeras empresas que organizam toda a excursão até lá. Nós usámos a See Krakow e adorei a experiência. Os guias eram de uma sensibilidade extrema, super atenciosos, toda a visita estava muito bem organizada e ainda nos foram buscar e levar ao hotel que previamente escolhemos, por ser mais perto da casa que alugámos.

Escrever um post sobre o que vivemos e vimos lá é tarefa difícil. No fundo, visitar Auschwitz foi como que um continuar de tudo aquilo que já tínhamos visto nos dias anteriores na Holanda e na Alemanha. Depois de vermos a Casa de Anne Frank, depois de estarmos em Berlim e vermos tanta exposição diferente sobre a guerra, entrar no sítio onde todas as atrocidades eram feitas teve um grande impacto.

Nós fomos numa altura de bom tempo e eu tinha aquela imagem super tenebrosa dos campos de concentração, com nevoeiro, céu encoberto, etc… e não foi nada disso que encontrámos. O dia estava muito bom, com um temperatura óptima, sol quentinho, tudo muito calmo e pacífico. E foi essa a primeira impressão que tivémos e que nos acompanhou durante toda a visita. A sensação de que o lugar carrega o peso do que aconteceu de mau lá, mas ao mesmo tempo está no passado e hoje em dia é lugar de luto, de memórias, de prestar homenagem.

Eu não vou escrever sobre todos os detalhes históricos do lugar, até porque muito já aqui escrevi até agora sobre a 2ª Guerra Mundial, e o que aconteceu nestes campos de concentração foi o culminar de toda a maldade, ódio, xenofobia, de um conjunto de homens e mulheres do regime de Hitler. Não foram só judeus que morreram, foram também ciganos, opositores do regime, polacos, e muitos outros que em algum momento das suas vidas foram acusados de alguma coisa, mesmo que sem fundamento.

Os campos de concentração foram criados sob o pretexto de campos de trabalho e de facto uma parte do seu propósito era cumprida, já que muitas das estruturas, armas, utensílios necessários na guerra eram de facto fabricados e feitos pelos habitantes dos campos de concentração. No entanto, aquilo que nos lembramos em primeiro lugar quando nos falam de Auschwitz é a quantidade de pessoas que morreram por (sobre)viverem em condições desumanas, sem comida, sob constantes maus-tratos e punições, à mercê de doenças contagiosas, sob o frio intenso do Inverno polaco, e, pior do que isso, os milhares de pessoas que morriam em câmaras de gás e que nem sequer entravam no campo.

Foi muito duro ver os carris onde chegavam vagões com dezenas e dezenas de pessoas vindas de várias partes da Europa, ver o local onde abandonavam todos os seus pertences, onde se dividiam famílias inteiras, onde era feita a inspeção dos que estavam ou não aptos a trabalhar e, finalmente, ver o trajeto que faziam até às câmaras de gás.

Os campos de concentração hoje são um museu de todos os horrores vividos e não só podemos andar pelos corredores onde diariamente judeus se agrupavam para trabalhar, como vimos os locais das punições e tortura (asfixia, falta de comida, etc), o local onde eram executados se se suspeitasse de alguma coisa, e até a única câmara de gás que restou porque todas as outras foram destruídas quando os Aliados estavam perto.

E é um impacto brutal! Nem há palavras! Os edifícios principais em Auschwitz são hoje em dia provas vivas do que realmente se passou lá e cada um está transformado em museu. Alguns edifícios são representativos das funções para que eram usados, como o edifício das punições e execuções, outros servem para homenagear ou retratar a história de um determinado povo/nação ou simplesmente mostrar vários aspetos da vida ali.

Um dos edifícios que mais me marcou foi sem dúvida o que contém os pertences dos judeus que chegavam ao campo de concentração e tinham de largar malas, roupa, sapatos. Então nós passamos por uma sala com centenas de malas, centenas de sapatos, milhares de óculos empilhados, e, mais macabro que isso, uma pilha imensa de cabelo humano que era rapado depois das pessoas serem retiradas das câmaras de gás. Foram imagens que me marcaram muito e que tenho a certeza que não vão sair mais da cabeça.

Mas ir a Auschwitz é mesmo para não sair de lá igual. Depois de ver todas as provas do horror lá vivido, depois de entrar na casa de tijolo onde dormiam centenas e centenas de judeus empilhados literalmente, onde passavam frio, calor, enfim… não há como sair de lá sem um aperto no coração.

Houve tantos momentos que eu me perguntei como era possível aguentarem dias naquelas condições. Como era possível dormirem junto ao chão de terra e partilharem uma cama de madeira com mais 8 pessoas? Como era possível no dia seguinte ir trabalhar em condições duríssimas de esforço físico sem sequer comerem? E era isto todos os dias.

Então Aushwitz é aquele local obrigatório que o ser humano tem de visitar nem que seja uma vez na vida. Não saímos de lá as mesmas pessoas garantidamente. Mas faz falta termos esse impacto, justamente para não deixar esquecer e para repetirmos as histórias quantas vezes forem necessárias às gerações futuras para que um horror destes não volte a repetir-se.