Cáceres na prática: acessos e comida!

Eu adoro contar tudo de bom que acontece durante as viagens que fazemos e gosto quando tenho coisas boas para contar. Esse é o objectivo de qualquer viagem! Mas infelizmente azares acontecem de vez em quando e em Cáceres fomos um bocadinho traídos talvez pelo facto da zona histórica ser muito condensada num só sítio, separada do resto da cidade mais “moderna”.

Então, como é óbvio, todo o comércio se vai concentrar ali, onde os turistas de certeza vão passar maior parte do seu tempo na cidade, e consequentemente tornar os preços mais altos do que seria razoável. Eu desde cedo, quando andava a ver hotéis, percebi logo que o alojamento em Cáceres era no geral mais caro do que em Mérida. Hotéis muito parecidos na sua categoria e extras, tinham diferenças no preço, de pelo menos 10€.

Eu ainda fiquei naquela de que talvez as melhores ofertas e melhores preços já estivessem esgotados, enquanto que Mérida ainda não estava nessa fase, mas agora, tudo começa a encaixar. Cáceres é sem dúvida uma cidade cara! Ponto final! Acredito que talvez fora da zona turística da muralha os preços possam chegar mais perto do que se faz em Mérida. Mas sejamos sinceros, onde é que nós vamos passar o dia? É na cidade nova, que é igual a tantas outras da Europa, com prédios modernos, outros nem tanto, etc etc, ou na zona histórica que é considerada Património da Humanidade?

Por alguma razão vamos a Cáceres, e a verdade é que inevitavelmente vamos passar tempo suficiente entre as muralhas para precisar fazer uma refeição decente. Então o mais prático é ficar por ali a comer, em vez de pegar no carro e ir até ao centro da cidade. Óbvio! E sim, é preciso ir de carro. A parte turística fica um pouco na periferia de Cáceres. De carro não é nada demais, mas a pé é impensável.

E pronto, tudo junto faz com que os restaurantes se aproveitem e se estiquem no preço da ementa. Eu vou falar um pouco em específico do restaurante que optámos, mas os outros em termos de preço não ficam atrás. Só não sei acerca da qualidade.

Então “O Pato”, bem no centro da Plaza Mayor é um dos inúmeros restaurantes que lá estão, e foi a nossa escolha, nem sei bem porquê. Se calhar porque ficava mesmo em frente à Porta da Estrela e pronto. Mas adiante, não posso dizer que a experiência de comer lá foi péssima porque é mau demais, mas se calhar já posso falar em desilusão atrás de desilusão.

Eu adoraria poder recomendar a 100% todos os restaurantes e hotéis, ou melhor, tudo aquilo que faço e experimento nas viagens, mas a verdade é que ás vezes acontecem destas coisas e não dá para falar bem. O que eu sinto em relação a este restaurante é que se tivesse uma nota preta para dar, teria de certeza comido bem, até porque eu vi grandes pratos apetitosos por ali. Mas a verdade é que me custa dar 15€ por pessoa só para um prato de carne. Em que depois as bebidas são caríssimas, aperitivos idem e sobremesas ainda mais. Quer dizer, chega a um ponto que espera aí. Quero ter dinheiro para chegar a Portugal!!

Então o meu refúgio são quase sempre as tapas porque dá para ir comendo e experimentando várias coisas diferentes em pequenas porções, logo, baixo preço. Mas até isso era caro aqui. Tapas caras e super simples, nada de especial mesmo. Acho que de todas as cidades que já fui em Espanha (e em todas elas experimentei tapas!), este foi o sítio onde comi pior. Não vou entrar em grandes detalhes do que estava mal no que comi, mas a verdade é que parecia que me estavam a servir comida/pão do dia anterior. As sobremesas também ficaram muito aquém, tendo em conta o preço absurdo. Eu pedi uma vieneta e fiquei com uma mini mini mini vieneta bloco de gelo. E pronto vou ficar por aqui!

A experiência em Cáceres, em termos de alimentação não funcionou e eu ia tendo um ataque cardíaco quando vi a conta. Praticamente o dobro do que pagámos em Mérida e a qualidade não tem comparação! Chocadíssima!! Eu não sou nada de disfarçar quando não gosto de alguma coisa, então eu imagino as minhas caras de incredulidade.

Mas a verdade é que tudo piora se formos para restaurantes dentro das muralhas. Aí é ainda mais dramático o preço que praticam! Portanto das duas uma: ou vão preparados com nota preta no bolso para comerem bem ou então passam pela mesma incredulidade que eu, por estarem a pagar um absurdo por uma refeição super modesta.

Mas passando agora para a parte dos acessos à zona histórica. Como ela fica um pouco desviada do resto da cidade de Cáceres, acaba por ficar longe do movimento próprio de uma cidade, onde os estacionamentos são quase sempre pensados para os moradores dos inúmeros prédios da zona. Por isso, sempre a pagar para quem quer estacionar e não é morador.

Ali, à volta da muralha, não se paga estacionamento e consegue-se encontrar vários lugares para estacionar. Não é assim aquela facilidade, ainda tivemos que procurar um bocadinho e as ruas já são parecidas ao interior das muralhas (pequenas e estreitas), mas não é nenhum drama. Nós ficámos a 2 minutos a pé da Plaza Mayor.

E andar por lá é super simples. À medida que nos vamos aproximando das muralhas, e depois dentro delas, são cada vez menos os carros que vemos, e de quando em vez aparece um taxi. Só!! Depois o que há para visitar e ver está tudo dentro da muralha, bem condensado. Então, o único senão é o relevo do terreno, que tão depressa está plano, como depois tem uma rua íngreme e depois umas escadas! Ou seja, é subir e descer ao longo do dia. Mas como a distância que vamos percorrer no total é curtíssima, não chegamos cansados ao final do dia. Pelo menos, nada a ver com Mérida!

Cáceres, a povoação que parou no tempo!

Cáceres é tudo de bom em formato condensado! Temos muralha, residências que outrora pertenceram à nobreza, zona de residência judia, conventos e igrejas ao virar da esquina, museus, marcos históricos. Um misto de sensações porque é um multiplicar de recantos e monumentos que são visitáveis ou simplesmente interessantes de serem vistos, com uma história magnífica.

A história de Cáceres já vem de 1227, quando o rei Alfonso IX de Leão conquistou a cidade. A partir daqui ela foi crescendo em prosperidade e comércio, atraindo mercadores e mais tarde a nobreza. E são principalmente as marcas da nobreza que nós encontramos entre as muralhas, e que dão a essência toda à visita.

Naquela altura, várias famílias da nobreza estabeleceram residência em Cáceres, onde o luxo e opulência passaram a fazer parte do dia-a-dia. As famílias guerreavam entre si pelo melhor palacete e também levavam a cabo constantes jogos de poder. Por essa razão, em 1476, a mandado dos reis Isabel e Fernando, a maioria das residências foi destruída, para que tudo isso tivesse fim.

Depois disso, a cidade foi perdendo a importância que tinha, até que em 1949 foi a primeira cidade espanhola a receber o título de Património da Humanidade.

Hoje em dia, a riqueza da cidade está de facto dentro das muralhas e na sua periferia, onde a povoação parece ter parado no tempo em que era habitada pela nobreza. A melhor porta de entrada na muralha é pela Plaza Mayor, onde já dá para ter uma grande perspectiva do que está para lá das muralhas. E o difícil mesmo vai ser definir uma rota porque em todo o lado vão estar casas interessantes para ver e algumas mesmo visitáveis.

Antes de nos aventurarmos pelas muralhas, fui ao Posto de turismo pedir um mapa específico da área das muralhas, porque o do meu guia não tinha tudo e abrangia só algumas zonas da muralha. O Posto está na Plaza Mayor, mesmo ao lado do Arco de la Estrella, um dos ícones e talvez a porta de entrada mais conhecida nas muralhas.

O design das residências é muito específico e mesmo a calçada é muito própria, por isso eu digo que parece que tudo ficou parado no tempo. E é engraçado como ainda há pessoas a viver por ali.

Algumas residências estão abertas ao público, mais como museus do que propriamente para mostrar um interior luxuoso de casa de nobreza. Quanto a luxos não vi nada, mas a arquitectura não deixa de ser surpreendente e, de certa forma, é compreensível já não restar nada do passado sumptuoso. O facto de haver tantas guerras pelo poder e por demonstrar a riqueza da família, criando depois tantos atritos com a realeza, explica muito o declínio e desaparecimento dos vestígios luxuosos do passado.

Mas, como estava a dizer, a arquitectura e a história por detrás dos palácios são únicos e fazem esquecer esses pormenores. Das várias residências que vemos há algumas que são mais conhecidas ou que são utilizadas como museu. É o caso da Casa Y Torre de Carvajal, que tem um jardim simpático nas traseiras e ainda um museu sobre a Estremadura e algumas relíquias da família; Casa de los Golfines de Abajo, que não está aberta ao público, mas pertenceu a uma das famílias mais influentes da altura, os Golfines; Casa del Sol, que pertenceu à família Solis, e por isso tem um sol na sua fachada; Casa Y Torre de las Ciguenas, onde está o museu militar.

Igrejas também estão literalmente ao virar de cada esquina e todas elas abertas ao público. Só na Iglesia de San Francisco Javier é que pagámos 1€, mas era caso quiséssemos subir às torres. E claro que não quisemos desperdiçar a oportunidade de ver toda aquela área que tínhamos andado a visitar, vista por cima. Quando subimos já era hora de almoço, então estava tudo muito sossegado por causa da hora da siesta, que os espanhóis cumprem religiosamente, e nós acabamos por ir de embalo.

Existem outras igrejas que podem ser visitadas, como a de San Mateo e a de Santa María, esta última mesmo em frente ao Arco de la Estrella. Existem mais, mas claro que é difícil vê-las a todas, até porque há mais coisas para ver e depois no período de almoço elas fecham e só abrem às 17h.

Achei super interessante visitar o Museu de Cáceres, que fica muito próximo do bairro judeu (San Antonio). Este museu, para além de ter a parte arqueológica da região e arte contemporânea, também tem uma coisa que eu nunca tinha visto antes: uma cisterna árabe. À primeira vista parece mesmo o típico sítio onde os bandidos eram atirados para morrer afogados (tem um buraco do tamanho de um homem no tecto!!). Mas depois, lendo as inscrições percebemos que a utilidade era mesmo de cisterna, para reservar a água. Uffa!

A magia de Cáceres passa essencialmente por ir percorrendo as ruelas e becos, entrando nas residências e igrejas (não se paga nada, esqueci de dizer!), subindo e descendo as escadarias e ruas inclinadas, saboreando tudo ao pormenor com calma. Não sejam stressados como eu! 🙂 “CARLOS! Ainda não fomos aliiii!!”

Passeámos por Cáceres o dia inteiro e basicamente vimos tudo o que as muralhas tinham para oferecer, tirando raras excepções como a Iglesia de Santa María, que me barraram a entrada na cara porque o padre vinha atrás de mim. Tudo bem, o mundo não vai acabar, estavam a barrar momentaneamente para dar assistência ao padre. Mas ainda assim fiquei tão fula na altura, que arranquei que nem flecha, alta cara de má, a jurar que não entrava mais ali dentro. E não entrei mesmo. Óbvio que levei gozo do Carlos!