China: manual de sobrevivência!

Viajar para a Ásia é só por si uma experiência cultural completamente fora do que estamos habituados a encontrar. Eu lembro-me que quando fui há dois anos para a Tailândia, Cambodja, Malásia e Vietnam todo o meu círculo de amigos e família ficou com um ar de quem acha que nós tínhamos pirado de vez. Contudo, quando dissemos que tínhamos comprado viagem para a China este ano, acho que os poucos que ainda acreditavam na nossa sanidade mental, deitaram a toalha ao chão e acharam honestamente que estávamos loucos.

E se eu me apaixonei perdidamente pela cultura chinesa por culpa das imensas fotos que vi do país, além de todos aqueles sítios emblemáticos como a Muralha da China e Cidade Proibida, que povoam a mente, também tenho de admitir que encarar uma viagem ao coração da China continental teve momentos de stress e indecisões.

Então balanço final da viagem vai para a constante aprendizagem que é viajar pela China. Não dá para levar a lição estudada de casa nem achar que vai ser fácil andar por lá. Eles são de facto um povo fechado para qualquer língua estrangeira e ainda vêm com olhar estranho o ocidental que vai ao país deles turistar.

Contudo, o que teve de enervante teve também de fantástico e eu voltaria a fazer tudo igual sem hesitar. Aliás, apesar de todos os contratempos eu sonho com o dia em que vou voltar a China e conhecer mais do interior deste país.

Mas vamos por partes!

Locomoção:

O facto de estarmos a viajar em cidades bastante desenvolvidas fez com que abandonássemos quase por completo os táxis (que usamos bastante na última viagem à Ásia) e andássemos sempre de transporte público ou a pé. Cada cidade foi diferente à sua maneira mas basicamente, em todas elas, usámos o autocarro e o metro para as deslocações maiores. No entanto, em alguns casos, o nosso hotel era tão bem localizado que nem sequer chegámos a usar transporte público.

Em Macau nós fizemos tudo a pé e só usámos autocarro para ir e vir da ilha de Taipa no segundo dia. O autocarro era bem raquítico, daqueles com preço fixo por viagem e era só inserir a nota no frasquinho à entrada e pronto. Nada de trocos! E este esquema de utilização de autocarro repetiu-se em Shanghai e em Pequim, onde também usámos autocarro para fazer pequenos trajetos. Tínhamos de levar sempre dinheiro trocado porque o pagamento era sempre colocar o valor fixo da viagem dentro da caixinha da entrada.

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Em Pequim, Shanghai e Hong-Kong ainda usámos o metro, que já tem um esquema mais fácil de pagamento nas tradicionais caixas eletrónicas. É só colocar o destino final e ele calcula logo o valor que temos a pagar. Mesmo que não tenhamos dinheiro trocado ele dá o troco, o que facilita bastante a vida.

Em Shanghai e Hong-Kong nós usámos o metro para ir para o aeroporto o que também é uma grande vantagem na hora de poupar dinheiro do táxi. Só usámos o táxi quando chegávamos às cidades, para nos levarem aos hotéis, pela razão simples de que os nossos voos chegavam sempre muito tarde (já depois da meia noite) e a essas horas os transportes públicos já não estavam ativos.

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Importa referir que usámos bastante a aplicação Google Maps para perceber qual o autocarro que devíamos apanhar e onde porque eles não falam inglês e não podíamos contar com a ajuda de ninguém para as indicações. No entanto, com esta aplicação nós conseguimos entender sempre qual o transporte que devíamos apanhar, onde o apanhar e onde sair. Nunca nos perdemos nem enganámos!

O valor a pagar na tal caixinha do autocarro está bem visível por isso nem precisamos estabelecer conversações com o motorista ou seja com quem for. Até porque o mais provável é não entenderem nada do que estamos para ali a dizer e desatarem a gritar em chinês.

Voos internos:

Ainda esteve em cima da mesa dispensar os voos na China e utilizar os comboios bala super conhecidos e que devem ser uma experiência cultural por si só. Mas em boa hora eu os dispensei. Os voos internos na China, apesar de mais caros e de não haver Air Asia para praticar aquele preço amigo, conseguiram surpreender bastante pela positiva. Nós voamos pela China Eastern e pela Cathay Pacific e todos os voos foram excelentes, com aviões enormes, com TV (que incluía jogos, filmes, séries, música, e muito mais) típica de voos de longo curso, super confortáveis, bagagem incluída e comida incluída também.

Então, apesar de termos pago um pouco mais em deslocações internas, adorei a experiência, com os aeroportos também super simpáticos, sem grande barafunda e até muito organizados. Mais do que eu esperava! Na entrada dos aeroportos tínhamos logo de passar a bagagem por um detetor de metais muito básico e eu achei que ia apanhar filas enormes logo aí, mas não. Não senti aquela confusão chinesa do povo todo junto que tenta passar à frente na fila, multidões que atrasam tudo, enfim…nada disso. Chegávamos sempre 2h antes do voo e era mais do que suficiente!

Moeda:

Todos os países que passámos tinham uma moeda diferente. Até Macau e Hong-Kong têm a sua própria moeda. Então basicamente o que achámos ser mais fácil no nosso caso foi levar Euros connosco e ir destrocando em cada país que passávamos. Eu mais ou menos faço os cálculos de quanto penso que vamos gastar nos dias que vamos passar em cada sítio e pronto.

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Fizemos as trocas de dinheiro sempre em lojas oficiais, logo à chegada ao aeroporto e agora, depois de uma viagem anterior à Ásia, penso ser a melhor forma e mais segura. Uma dica preciosa é que para quem está a fazer Macau e Hong-Kong pode usar as moedas de cada “país” em ambos os sítios. Ou seja, se por acaso sobraram algumas Patacas de Macau podemos usá-las em Hong-Kong e vice-versa. Isto ajuda imenso para escoar aquelas últimas moedas que ficaram na carteira.

Comida:

A comida chinesa sempre foi uma das minhas preferidas de todo o mundo e hoje em dia já são vários os restaurantes que encontramos na nossa bela cidade ocidental e que nos fazem habituar àquele tipo de culinária. Então eu no fundo sabia que depois da viagem anterior à Ásia havia pouco para me preocupar nesta área, principalmente quando já conhecemos minimamente o tipo de comidas e já experimentámos tantas vezes antes.

Então, não tem como errar na comida chinesa! Praticamente toda ela é super saborosa. É sentar no restaurante, olhar o menu que está cheio de fotos da mais variada comida e tentar escolher aquilo que mais gostamos. Sim, eles não vão ajudar nas nossas indecisões porque não falam inglês. Por isso, resta-nos olhar bem para a imagem e tentar decifrar o que cada coisa é.

Nem sempre tivemos sorte com toda a comida mas adotamos o truque de pedir vários pratos diferentes e ir partilhando. Assim quando um não gostava tanto de uma coisa os outros também comiam e não era tão grave assim. Mas regra geral eu adorei toda a comida que provámos e eu tentei ser bem eclética!

Mesmo sabendo que há pratos mais básicos que é certo não errar, tentei sempre arriscar e provar coisas diferentes cada vez que sentávamos no restaurante. Por outro lado eu fiz algum trabalho de casa e levei escrito no nosso roteiro alguns pratos típicos que queria provar na China. Alguns exemplos foi o Pato laqueado de Pequim que comemos exatamente em Pequim, ou os Dim Sum que são deliciosos e comemos um pouco por cada cidade que passámos. Noodles fizeram parte da ementa mais dias do que gostaria, mas por vezes era a opção mais fácil e rápida.

Quanto aos restaurantes que usámos eu não tenho propriamente uma dica certeira de algum imperdível. Basicamente íamos perguntando no hotel qual o restaurante mais próximo para comer bem, ou então saíamos e entrávamos na primeira “espelunca” com ar minimamente aceitável. E apesar de termos entrado em restaurantes muito duvidosos onde não havia qualquer ocidental além de nós, não posso dizer que tenha comido mal em qualquer um deles.

Por isso eu acho que a comida chinesa não tem muita ciência e mesmo nos restaurantes mais espelunca ou em qualquer barraca de rua nós vamos concerteza fazer uma refeição muito saborosa.

Barreira linguística:

Esta foi sem dúvida a maior dificuldade de toda a viagem à China. Ao ponto de nos enervarmos a sério porque não conseguíamos resolver problemas simples com base num diálogo em inglês. Praticamente ninguém fala inglês na China e é incrível como notamos uma diferença considerável entre a China continental e Hong-Kong, por exemplo.

É impensável perguntar qualquer tipo de informações em inglês em pleno Shanghai ou até Pequim. E mesmo no hotel em Shanghai nós não conseguimos falar em inglês com nenhum dos empregados. E pensando que não estávamos propriamente ilhados numa qualquer vila ou aldeia do interior da China, tudo isto nos deixava super à toa. Como era possível que em cidades tão desenvolvidas e centrais não conseguíssemos encontrar uma única pessoa a falar inglês.

Então a nossa única solução era apontar para aquilo que queríamos, ou fazer gestos e aí eles percebiam, ou então, se a conversa era intrincada e se queríamos perguntar ou resolver alguma coisa, a solução foi usar uma App de tradução. E neste último ponto eles estão super bem adaptados. Como sabem que não pescam nada de inglês, qualquer pessoa tem no seu telemóvel uma App para tradução e quando nós chegávamos perto para falar alguma coisa sem ser em chinês, lá sacavam do seu Iphone e estabeleciam ali uma conversa razoável conosco.

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Às tantas nós achámos por bem descarregar o idioma chinês para a minha App Google tradutor e a partir daí era só rezar para ter wi-fi que permitisse fazer a tradução sem problemas. Só que este era outro problema constante. Mas já lá vamos!

Dica útil: Levar os endereços e nomes de hotel em chinês para ser só mostrar ao homem do táxi nos aeroportos ou em qualquer lugar da cidade. Facilita imenso e o Booking já permite fazer isso.

Restrições de Internet:

Na China continental (não sentimos isso em Macau nem em Hong-Kong) a internet está restringida a telemóveis com outras redes e que não tenham cartão Sim chinês. Não sei bem porque é que haveriam de fazer uma coisa destas aos turistas mas se há coisa que eu aprendi é que chinês é um povo complicado da cabeça e que acha que tem de ser diferente, dificultando a vida a tudo o que não fala chinês.

Então, pensando nesta dificuldade que íamos sentir assim que aterrássemos em território chinês (Shanghai e Pequim), descarregámos uma App ainda em Portugal, o VPN. O que é isto do VPN? Existem várias aplicações disponíveis para smartphone dentro desta categoria de VPN, por isso é só escolher uma delas e usar durante o tempo que estivermos em território chinês. Só temos de ter wi-fi e manter o VPN ativo e conseguimos continuar a aceder normalmente às redes sociais ou à internet no geral. O que o VPN faz é camuflar o nosso ID, fazendo com que o nosso telemóvel assuma que estamos noutro qualquer país. O meu país geralmente era a Alemanha mas a aplicação é que vai definir aleatoriamente qual o melhor país para camuflar o ID em cada momento. Para nós foi a salvação!

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Além destas restrições todas também foi super difícil encontrar wi-fi pela cidade. Nada a ver com Macau e Hong-Kong, por exemplo, em que tínhamos internet em praticamente toda a cidade. Na China continental eles têm montes de passwords e nota-se mesmo que restringem imenso as suas redes wi-fi para todos aqueles que não têm cartão chinês. Então muita paciência nesta área!

Compras, negócios da China e custo da viagem no geral:

Viajar pela China sai mais caro do que inicialmente pensamos. Eu pessoalmente sempre achei que Ásia era no geral bem acessível e sempre esperei encontrar um custo semelhante ao que encontrei na última viagem pelo continente. Mas não é bem assim! Especialmente nas grandes cidades chinesas! A começar no custo dos hotéis, até às entradas nos museus/atrações, restaurantes, transportes, enfim… tudo é mais caro do que, por exemplo, na Tailândia. No entanto, se escolhermos bem encontramos opções mais em conta sem gastar balúrdios.

O que tem de caro no custo de vida, acaba por compensar nas compras de coisas tradicionais ou marcas locais. Então eu levava a lição estudada nesta área e também já tinha alguma ideia do que queria comprar e do que compensava mais. Mesmo assim até fui bastante contida e acabei por já não conseguir comprar o bule de chá em Hong-Kong por falta de paciência para regatear preços.

Então o que é que eu comprei e acho que vale a pena? Comprei uma blusa interior térmica da Uniqlo, que é marca japonesa e consequentemente mais barata nesta zona. No Natal passado recebi de prenda do Carlos um casaco de penas da gama HighTech que é super quente, leve e fácil de transportar. Até foi o casaco que trouxe nesta viagem e já usei e abusei dele durante todo o Inverno por ser muito prático e quente. Então para quem quiser investir em roupa desta marca, a Ásia é o melhor sítio para as compras.

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Ainda dentro das marcas asiáticas japonesas, comprei uma máscara para o cabelo da marca Tsubaki (Premium Repair Mask), que é uma das melhores marcas de cuidados capilares. E como as marcas asiáticas têm a fama de serem das melhores do mundo, a Tsubaki é bem reconhecida e bem cara também no ocidente. Em Hong-Kong abundam as lojas tipo farmácia com imensos produtos de cosmética de marcas asiáticas e internacionais também. Mas óbvio que o que vale muito a pena comprar são as marcas asiáticas. Comprei a minha máscara por meros 5€!!! Em Portugal, só através do Ebay e seria mais de 20€ o mesmo frasco. A marca tem vários tipos de champôs muito bons também mas como as embalagens são enormes, eu fiquei com medo do peso na mala de porão e não comprei.

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Tirando estas comprinhas, ainda trouxe várias embalagens de café e chá de Bali, um conjunto de pauzinhos de loiça de Shanghai, um quadro desenhado com linha com uma paisagem do Palácio de Verão de Pequim e uns quadrinhos com os nossos nomes desenhados em caracteres chineses. De todos os sítios que andámos, sem dúvida que a cidade antiga em Shanghai foi o melhor sítio para comprar lembranças tradicionais chinesas, enquanto que as lojas de marcas asiáticas de renome são mais fáceis de encontrar nas ruas e shoppings de Hong-Kong.

A regra é sempre a mesma quando compramos em mercados de rua: regatear!! Mesmo que isso implique sermos ofendidos em chinês num mercado duvidoso numa rua igualmente duvidosa.

Nojices e preconceitos no geral:

Sim, quando falamos em China vale a pena lembrar que é um povo mais que reconhecido pela porquice intrínseca. Então o ideal é irmos com o espírito bem aberto porque concerteza nos vamos deparar com várias situações bem nojentas de fazer o couro cabeludo arrepiar. No meu caso, eu já ia preparada para a básica escarradela no meio da rua, ou andarem constantemente com o dedo no nariz, ou o chão escorregadio dos restaurantes.

Mercado em Kowloon (Hong-Kong)

Mas mesmo assim o que me fez mais confusão foi mesmo entrar nas traseiras de um dos restaurantes que passámos e ver a nojice que estava à minha volta. Perdi o apetite na hora! E já foi no finzinho da viagem, então tecnicamente eu já tinha visto de tudo. Mas fazer o quê né? Há coisas que eu dispensava ver!

Senhor a tomar banho no McDonald’s de Hong-Kong

De resto, não sei se foi a mentalidade com que fui, mas não me senti enojada com praticamente nada. Claro que é um mundo à parte, uma cultura completamente diferente e tal, mas viajar pela China não é nenhum bicho de sete cabeças e é perfeitamente possível com a dose certa de entendimento de que estamos na Ásia.

WC em Shanghai com sanita aquecida entre outras tecnologias

Então, no geral eu adorei andar pela China e senti que mesmo todas as peripécias que aconteceram não contribuíram em nada para tirar o encanto que já sentia pelo país. Pelo contrário. Fiquei super animada por ultrapassar todos os “obstáculos” do dia-a-dia e por desmistificar mais esta cultura que assusta tanto o povo ocidental.

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