Casa da Anne Frank!

Reservei para o segundo dia aqueles sítios mais emblemáticos que eu queria mesmo visitar. Começámos então o roteiro na Casa da Anne Frank, que fica bem no começo do bairro Jordaan. Para quem se interessa pela 2ª Guerra Mundial concerteza já ouviu falar da menina Anne Frank e do seu diário. Esta é talvez a história mais factual que temos e que retrata bem a tragédia que os judeus viveram na época e como conseguiam sobreviver na clandestinidade, acabando muitos deles por serem descobertos e levados para os campos de concentração.

Anne Frank era uma adolescente judia que vivia normalmente com a sua família na Alemanha até começarem as perseguições aos judeus, com leis que iam saindo diariamente e que só serviam para dificultar cada vez mais a sua vida e impedi-los de sequer ter ligação com os restantes alemães de raça ariana.

E, ao longo dos seus diários, nós vamos percebendo como a vida desta menina e de toda a sua família, se alterou, numa questão de poucos anos. Vamos acompanhando como ela vivia normalmente, frequentando a escola com meninas de todas as raças, até ser obrigada a deixar as suas amigas para trás, a sua casa para trás, e fugir para Amesterdão, numa altura em que a Holanda ainda não estava sob o governo de Hitler.

Em Amesterdão a vida desta família volta à normalidade por alguns anos, mas com o tempo e com o avançar da guerra, Hitler chega à Holanda, como de resto ocupou vários outros países da Europa. E nesta altura toda a família se esconde no anexo da casa onde o pai de Anne Frank tinha o seu negócio, juntamente com outros judeus e não judeus.

E é este anexo que foi transformado posteriormente em museu, por Otto Frank (pai), que foi o único que sobreviveu no campo de concentração de Auschwitz, sendo libertado pelas tropas dos Aliados. A família viveu vários anos escondida no anexo e durante todos estes anos Anne Frank foi escrevendo o dia-a-dia da casa. E impressiona demais perceber a dura realidade que era viver em pânico constante que um dia fossem descobertos, viver em constante sobressalto porque não podiam fazer barulho em circunstância alguma, nem para descarregar o autoclismo.

Entrada do anexo. Foto retirada de: https://www.annefrank.org/en/museum/inside-museum/

Entre Julho de 1942 até Agosto de 1944 a família viveu ali, até serem encontrados pela Gestapo e deportados para o campo de concentração de Auschwitz. Toda a família foi separada e só Otto Frank sobreviveu. Depois de terminar a guerra o diário foi encontrado no anexo e em poucos anos foi publicado para que todos pudessem conhecer o que tinha acontecido a esta menina, mas também a tantos outros judeus que como ela tiveram um final trágico nas suas vidas, sendo ainda hoje impossível saber ao certo quantos judeus morreram. Fala-se em milhares, milhões, enfim… foram muita vidas perdidas.

Quarto de Anne Frank no anexo. Foto retirada de: https://www.annefrank.org/en/anne-frank/anne_frank-the-story-in-brief/

Foi um peso tremendo visitar o anexo, ver todas as fotos, objetos pessoais, vídeos, com toda a história a ser-nos narrada em cada divisão que passávamos. A decoração original foi levada pela Gestapo e Otto nunca quis voltar a decorar o anexo, depois do seu regresso, mas existem fotografias de todas as divisões e de como elas estavam originalmente.

No final está também uma maquete da casa e do anexo, com a decoração original em miniatura. Esta foi a única colaboração em termos de decoração, que Otto deu, para podermos ter alguma ideia de como eles viviam o seu dia-a-dia.

Também no final estão várias fotos de família tiradas ainda antes de fugirem para o anexo e também um vídeo com vários testemunhos e comentários de pessoas que estiveram ligadas à família (desde um antigo namorado de Anne, até uma colega de escola alemã, ou até o próprio Frank a falar). Também participam no vídeo várias personalidades famosas, que ao longo dos anos foram visitando o museu e quiseram falar um pouco do que sentiram, trazendo alguma palavra de confiança para o futuro.

Enfim, visitar a Casa de Anne Frank teve um grande significado para mim por já ter lido o seu diário há muitos anos, ainda era eu própria uma adolescente. Então, quando entrei no anexo e comecei a olhar aquelas divisões e todo o esforço megalómano que aquela família fez, juntamente com todos os seus amigos alemães que estavam a ajudá-los a sobreviver, foi impossível não me emocionar. Porque há coisas que vão muito além da nossa imaginação. A nossa mente simplesmente não consegue explicar nem compreender os horrores sofridos não só pelos judeus mas por todos aqueles que o regime de Hitler decidiu exterminar.

Mas apesar de ser tão difícil ver tudo aquilo, ler livros, ver filmes, ainda assim eu acho que visitar a Casa de Anne Frank é obrigatório para todos. É um lembrete de algo que não está tão longe assim do nosso tempo, e de algo que não queremos que aconteça nas gerações futuras. E a única forma de não repetirmos erros do passado é continuarmos a trazê-los à memória.

E uma coisa que eu refleti muito, não só aqui mas depois em Auschwitz, foi nos horrores que ainda hoje acontecem pelo mundo. Sim, a Europa pode estar a salvo destas perseguições, mas todos os dias ouvimos notícias de tantos outros povos que estão a ser perseguidos nos seus países, que já não são bem-vindos na sua terra, que têm de fugir por causa da guerra, etc etc… São inúmeros casos! Então, o diário de Anne Frank continua a ser atual e uma fonte de inspiração para todos os que ainda hoje sofrem perseguição.

Os bilhetes para visitar a Casa de Anne Frank têm de ser comprados online e com alguma antecedência porque esgotam bem rápido e têm hora marcada. Por isso, se é algo que querem fazer durante a visita a Amesterdão, planeiem bem o dia e reservem os bilhetes o quanto antes. Algumas fotos que eu usei neste post foram retiradas do site do museu porque no interior é expressamente proibido fotografar.

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