Cáceres, a povoação que parou no tempo!

Cáceres é tudo de bom em formato condensado! Temos muralha, residências que outrora pertenceram à nobreza, zona de residência judia, conventos e igrejas ao virar da esquina, museus, marcos históricos. Um misto de sensações porque é um multiplicar de recantos e monumentos que são visitáveis ou simplesmente interessantes de serem vistos, com uma história magnífica.

A história de Cáceres já vem de 1227, quando o rei Alfonso IX de Leão conquistou a cidade. A partir daqui ela foi crescendo em prosperidade e comércio, atraindo mercadores e mais tarde a nobreza. E são principalmente as marcas da nobreza que nós encontramos entre as muralhas, e que dão a essência toda à visita.

Naquela altura, várias famílias da nobreza estabeleceram residência em Cáceres, onde o luxo e opulência passaram a fazer parte do dia-a-dia. As famílias guerreavam entre si pelo melhor palacete e também levavam a cabo constantes jogos de poder. Por essa razão, em 1476, a mandado dos reis Isabel e Fernando, a maioria das residências foi destruída, para que tudo isso tivesse fim.

Depois disso, a cidade foi perdendo a importância que tinha, até que em 1949 foi a primeira cidade espanhola a receber o título de Património da Humanidade.

Hoje em dia, a riqueza da cidade está de facto dentro das muralhas e na sua periferia, onde a povoação parece ter parado no tempo em que era habitada pela nobreza. A melhor porta de entrada na muralha é pela Plaza Mayor, onde já dá para ter uma grande perspectiva do que está para lá das muralhas. E o difícil mesmo vai ser definir uma rota porque em todo o lado vão estar casas interessantes para ver e algumas mesmo visitáveis.

Antes de nos aventurarmos pelas muralhas, fui ao Posto de turismo pedir um mapa específico da área das muralhas, porque o do meu guia não tinha tudo e abrangia só algumas zonas da muralha. O Posto está na Plaza Mayor, mesmo ao lado do Arco de la Estrella, um dos ícones e talvez a porta de entrada mais conhecida nas muralhas.

O design das residências é muito específico e mesmo a calçada é muito própria, por isso eu digo que parece que tudo ficou parado no tempo. E é engraçado como ainda há pessoas a viver por ali.

Algumas residências estão abertas ao público, mais como museus do que propriamente para mostrar um interior luxuoso de casa de nobreza. Quanto a luxos não vi nada, mas a arquitectura não deixa de ser surpreendente e, de certa forma, é compreensível já não restar nada do passado sumptuoso. O facto de haver tantas guerras pelo poder e por demonstrar a riqueza da família, criando depois tantos atritos com a realeza, explica muito o declínio e desaparecimento dos vestígios luxuosos do passado.

Mas, como estava a dizer, a arquitectura e a história por detrás dos palácios são únicos e fazem esquecer esses pormenores. Das várias residências que vemos há algumas que são mais conhecidas ou que são utilizadas como museu. É o caso da Casa Y Torre de Carvajal, que tem um jardim simpático nas traseiras e ainda um museu sobre a Estremadura e algumas relíquias da família; Casa de los Golfines de Abajo, que não está aberta ao público, mas pertenceu a uma das famílias mais influentes da altura, os Golfines; Casa del Sol, que pertenceu à família Solis, e por isso tem um sol na sua fachada; Casa Y Torre de las Ciguenas, onde está o museu militar.

Igrejas também estão literalmente ao virar de cada esquina e todas elas abertas ao público. Só na Iglesia de San Francisco Javier é que pagámos 1€, mas era caso quiséssemos subir às torres. E claro que não quisemos desperdiçar a oportunidade de ver toda aquela área que tínhamos andado a visitar, vista por cima. Quando subimos já era hora de almoço, então estava tudo muito sossegado por causa da hora da siesta, que os espanhóis cumprem religiosamente, e nós acabamos por ir de embalo.

Existem outras igrejas que podem ser visitadas, como a de San Mateo e a de Santa María, esta última mesmo em frente ao Arco de la Estrella. Existem mais, mas claro que é difícil vê-las a todas, até porque há mais coisas para ver e depois no período de almoço elas fecham e só abrem às 17h.

Achei super interessante visitar o Museu de Cáceres, que fica muito próximo do bairro judeu (San Antonio). Este museu, para além de ter a parte arqueológica da região e arte contemporânea, também tem uma coisa que eu nunca tinha visto antes: uma cisterna árabe. À primeira vista parece mesmo o típico sítio onde os bandidos eram atirados para morrer afogados (tem um buraco do tamanho de um homem no tecto!!). Mas depois, lendo as inscrições percebemos que a utilidade era mesmo de cisterna, para reservar a água. Uffa!

A magia de Cáceres passa essencialmente por ir percorrendo as ruelas e becos, entrando nas residências e igrejas (não se paga nada, esqueci de dizer!), subindo e descendo as escadarias e ruas inclinadas, saboreando tudo ao pormenor com calma. Não sejam stressados como eu! 🙂 “CARLOS! Ainda não fomos aliiii!!”

Passeámos por Cáceres o dia inteiro e basicamente vimos tudo o que as muralhas tinham para oferecer, tirando raras excepções como a Iglesia de Santa María, que me barraram a entrada na cara porque o padre vinha atrás de mim. Tudo bem, o mundo não vai acabar, estavam a barrar momentaneamente para dar assistência ao padre. Mas ainda assim fiquei tão fula na altura, que arranquei que nem flecha, alta cara de má, a jurar que não entrava mais ali dentro. E não entrei mesmo. Óbvio que levei gozo do Carlos!

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